Por João Comério
Do pequeno ao grande produtor rural, das pequenas às grandes empresas do agronegócio, pesquisar e investir em inovação é fundamental. No entanto, vale destacar que inovação não significa apenas investir em tecnologia, como é comum associarmos. A inovação também é necessária na forma como tomamos nossas decisões, como atualizamos o direcionamento dos negócios e como conduzimos o setor.
O Agronegócio tem lastro na ciência, cresceu com base na ciência e no seu desenvolvimento, e é importante que isso seja sempre mantido em mente na hora da tomada de decisões nos negócios.
Nesta crise que estamos passando, com a pandemia, muito se fala em ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) e sustentabilidade empresarial e de negócios, mas, na realidade, a inovação deve permear todos os fatores de sucesso de uma empresa.
Temos muito que avançar em inovação tecnológica, e nosso país é referência nesse sentido. Mas precisamos entender que inovação vai além disso, passa por modelo de gestão de pessoas e vai para outros pontos do negócio propriamente dito.
Inovar não é apenas ter uma boa ideia, é transformar uma boa ideia em negócio. E para você fazer isso é preciso um modelo de gestão muito eficiente. E refiro-me a qualquer tipo de empresa, desde as micro até as multinacionais. É preciso ter um modelo de gestão ágil, eficiente, muito flexível, com a arte de saber ouvir e sempre com lastro em projeto. De nada adianta a liderança anunciar que vai promover a inovação dentro da empresa, se dentro, no DNA, na gestão do dia a dia, você não incorpora a estrutura de inovação.
O Brasil é líder mundial na exportação de celulose e isso faz parte da carteira agro. E isso vem de um modelo de inovação espetacular ao longo dos últimos anos. Vale lembrar que essa é uma atividade 100% ESG, um modelo a ser copiado e as perspectivas são muito boas para esse setor.
É fundamental inovar no modelo de gestão, ser flexível, com planejamento estratégico, sempre ouvindo o que o mercado está sinalizando, as novas tendências tecnológicas, os novos desafios legais, de marcos regulatórios. Ou seja, ter uma antena tecnológica de informação muito eficiente no seu modelo de gestão.
Dentro do conceito de tecnologia e informação, entra a questão das AgriTechs, startups ligadas ao agronegócio. Segundo levantamento da ABAG, o Brasil tem mais de 300 AgriTechs que já investiram mais de R$ 100 milhões em sistemas inteligentes no campo. E a pandemia afetou esse setor também. Existiam no mercado várias startups muito valorizadas, com soluções completas, que se dissolveram, e não serão mais absorvidas neste novo cenário que o mundo passa e ainda vai passar.
É possível visualizar, aquelas empresas que vão se destacar e estão mais alinhadas às necessidades da nova economia. No mundo do agro, o que virá é uma maior proximidade do consumidor final, exigindo origem, procedência e uma série de coisas que ele não exigia anteriormente. Hoje em dia, estão em alta startups que fazem rastreio da cadeia de custódia, acompanhamento de produção e de critérios ambientais e sociais no dia a dia.
Já podemos observar que está acontecendo uma relação diferente entre o mundo das grandes empresas e produtores, que necessitam de produções tecnológicas de gestão e o mundo dos empreendedores das startups, com novas soluções que estão sendo demandadas. O Brasil tem essa característica de ser criativo e buscar soluções no meio da crise, então, estamos saindo fortalecidos neste momento. Muitos negócios pequenos trarão grandes resultados para as grandes empresas e produtores independentes.
Um dos temas que mais preocupa o setor, apontado em pesquisa recente e que em breve será divulgada pela ABAG (Associação Brasileiro do Agronegócio), é “Infraestrutura e Logística”. Grande parte das pessoas que participaram dessa pesquisa destaca que esse talvez seja o principal gargalo. Algumas entidades falam em prejuízos na ordem de US$11 bilhões por ano, relacionados a problemas de logística brasileira.
A lentidão para aplicação das novas tecnologias e inovações no campo também é outro ponto abordado. Outra questão foi a formação acadêmica: o Brasil forma hoje, com raríssimas exceções, profissionais sem espírito de empreendedorismo, sem o espírito da inovação. As universidades pecam nisso.
A questão da sustentabilidade também é fundamental. O mundo na inovação, no processo decisório na geração de novos produtos, tem que passar necessariamente pelo requisito de sustentabilidade. A sociedade não suportará mais algumas atitudes que o mundo toma hoje. As empresas precisam estar preparadas para isso.
O tripé da sustentabilidade econômica, ambiental e social deve ser acrescido ainda da vertente gestão e da vertente comunicação. Se você partir dessas cinco vertentes, no fundo é uma gestão com lastro em inovação, que trará resultados muito próximos às necessidades da nova sociedade. Para ter sucesso no mundo empresarial, é preciso inovar, inovar e inovar.
João Comério é Presidente do Conselho do Grupo Innovatech, formado pelas empresas ESG Tech Consulting, Innovatech Gestão, Filius Venture e Auctus Inteligência Aumentada; e Presidente do Comitê de Inovação da ABAG. É graduado pela Universidade Federal de Viçosa em MG, com especialização em Princípios de Gestão na Columbia University, New York, NY, EUA.